Quinze anos após sua morte, Renato Russo ganha homenagem no cinema




Ísis Valverde foi a atriz escolhida para viver Maria Lúcia em Faroeste Caboclo
Renato Russo foi um dos criadores do chamado Rock Brasil, que surgiu nos anos 80. Fez sucesso com a banda Legião Urbana, virou ícone da rebeldia juvenil e morreu, em consequência da Aids, aos 36 anos de idade.
Uma década e meia depois, a história de Renato volta à baila com o lançamento de dois filmes que abordam de alguma forma a vida do cantor e compositor.

O R7 foi às ruas de Brasília tentar resgatar o que ainda existe do enredo contado em Faroeste Caboclo, uma das canções mais emblemáticas da pós-ditadura e que será retratada no filme homônimo, dirigido pelo cineasta brasiliense René Sampaio, com previsão de lançamento para o começo do ano que vem. O roteiro é de Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus.

A saga de João de Santo Cristo, “que deixou pra trás todo o marasmo da fazenda, só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu”, é considerada a ópera-rock das ruas de Brasília.
Em seus mais de nove minutos de duração, a música cita lugares nos quais Renato passou a adolescência e mistura ficção com a realidade do planalto central do final da década de 70.

O passar dos anos, porém, alterou o roteiro. A chegada de Santo Cristo na rodoviária de Brasília, quando vê as luzes de Natal, teve de ser adaptada. Assim como o duelo final com o traficante Jeremias, que teve como palco o “lote 14 da Ceilândia”.
Veja fotos do filme de Renato Russo 
Ísis Valverde está em Faroeste Caboclo

Ceilândia, à época da música, tinha apenas nove anos e fora criada pela CEI (Campanha de Erradicação das Invasões). Era um local miserável, onde em qualquer conjunto havia um lote 14 com ruas de terra e cheia de barracos.
Sampaio afirma que a cidade hoje, a mais populosa do Distrito Federal, é completamente diferente daquela retratada por Renato Russo em 1979.

- A parte da Ceilândia não existe mais. As pessoas foram melhorando de vida, saindo dos barracos e madeira, a rua foi asfaltada. É o processo normal de uma cidade que está se desenvolvendo. Então ainda precisávamos de um grande descampado, com ruas de terra, mas com organização. Não podia ter cara de invasão.

A solução foi filmar a cena do duelo no Jardim ABC, bairro pobre e violento da Cidade Ocidental, bem na divida entre o DF e Goiás. Lá, a produção construiu um quarteirão cenográfico, desde a casa de Santo Cristo até a carpintaria onde ele tenta uma vida honesta.

Um dos poucos cenários que permaneceu intacto nesse tempo foi a chácara entre Brasília e Sobradinho que sediou a Rockonha. Paulo Cézar Alencar de Almeida, hoje empresário de 49 anos, foi o responsável pela festa que, na música, foi organizada por Jeremias.

- Não fiquei com fama de traficante. Depois de 30 anos, um ou outro brinca “ô seu Jeremias”, mas nem ligo.

A mistura das palavras rock e maconha somada ao convite em seda de fumo – impresso por um dos amigos de Paulo na gráfica do Senado – chamou a atenção da polícia. No papel, estava escrito: “Para matar as saudades, os delírios e as fissuras, a Rockonha vem convidar você para mais um som viajante ‘baseado’ no bosque (...)”. As caixas de som ficavam presas nas árvores.

Na noite de 30 de agosto de 1980, cerca de 700 jovens seguiram até o sítio. Elas foram surpreendidas por uma operação policial, que contou com 80 policiais militares, cães farejadores, agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, policiais da Delegacia de Menores e agentes do Juizado de Menores.

Renato Russo estava lá a tempo de ser preso pela tropa de choque junto com filhos de militares e outras autoridades e não pensou duas vezes em incluir a Rockonha em Faroeste Caboclo.

O filme também conta com a participação do único filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, que acabou ganhando um papel na trama. R7 Continue lendo...