Caso de racismo durante o último Gre-Nal será investigado

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Há determinadas situações que jamais podem ser relevadas. Em nenhuma situação, sob qualquer justificativa e em qualquer lugar, atos de racismo podem ser tolerados. Trata-se, inclusive, de uma determinação legal. A Constituição federal de 1988 considera racismo crime inafiançável que prevê, como pena, de 2 a 5 anos de reclusão. Ou seja, a atitude de alguns torcedores gremistas durante o Gre-Nal do domingo com relação ao jogador Zé Roberto, do Inter, é caso para a Polícia.



O atacante foi a principal figura colorada do clássico que deu o 40 título gaúcho ao Inter. Na segunda-feira, ele não concedeu nenhuma entrevista. Ontem, na reapresentação, após um dia de folga, Zé Roberto lamentou o episódio. Ele relatou ter visto e ouvido torcedores gremistas imitando macacos enquanto fazia o aquecimento. O fato teria se repetido depois, já durante o jogo.



"Houve, sim, (racismo). Quando eu estava aquecendo, peguei na bola algumas vezes e a torcida imitava macacos. Alguns companheiros me disseram que isso é algo normal. Mas eu fiquei assustado. Vivi em alguns países e nunca sofri essa situação. É ruim viver isso no seu país. É lamentável, um sentimento nojento", resume Zé Roberto.



Visivelmente constrangido de ter de falar sobre o assunto, o atacante revelou que a atitude o incentivou a entrar na partida e desequilibrar a favor do Inter. De fato, o Gre-Nal foi seu principal jogo com a camisa colorada. "É um sentimento asqueroso. Só faz mal para a gente. Mas eu não vou fazer nada. Quem tem de tomar uma atitude é a Federação (Gaúcha de Futebol). Só quero jogar futebol", afirma.



Zé Roberto pode querer esquecer a história, mas o Inter não ficará passivo. Ontem, o vice de futebol, Roberto Siegmann enviou um ofício à FGF solicitando a investigação do caso. "Todo mundo viu o que aconteceu no Olímpico. Era fato público e notório. Então, esperei que alguém tomasse a iniciativa de fazer a denúncia. Como isso não ocorreu, resolvi me manifestar", observa Siegmann. Junto com o ofício, ele disse ter remetido uma série de provas, inclusive gravações e vídeos. "Práticas deste tipo não podem contar com a conivência da Federação", prossegue o dirigente.



O presidente do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), Milton Salatino, já aguarda o material enviado por Siegmann. Ele confirmou que o caso será analisado pelo TJD e que a punição prevista para esse tipo de episódio é multa e interdição do estádio. E foi além: "Não pode existir discriminação de forma alguma. Havendo elementos que comprovem com contundência que houve racismo durante o Gre-Nal, o caso pode se enviado para a análise da Polícia. Este é um crime dos mais lamentáveis", afirma.



Os dirigentes gremistas também repudiaram o fato, mas tentaram contextualizar com a cultura de rivalidade entre os dois clubes. O vice de futebol, Antônio Vicente Martins, disse que o time gremista teria sido alvo de protestos racistas durante um jogo contra o Juventude, em março, no estádio Alfredo Jaconi.