22 anos sem Raul Seixas




Raul Seixas abriu as portas para as gerações seguintes expressarem o grito de liberdade que o rock’n´roll representava para a juventude


Relembre a trajetória do cantor e compositor baiano, precursor do rock’n´roll nacional

No dia 21 de agosto de 1989, o baiano Raul Seixas, foi encontrado morto sobre a cama pela sua empregada Dalva, por volta das oito horas da manhã, em seu apartamento, em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca - seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. 

Em pleno auge do rock nacional, no final da década de 80, o Brasil perdia um dos seus maiores ídolos. Raul, que havia se entregado ao álcool, ficou marcado para sempre como um idealista, um filósofo, chegou  a ser chamado de "profeta", mas também é lembrado por uma carreira cheia de altos e baixos, com shows memoráveis e outros vaiados. No ano de sua morte, Raul, já com a saúde debilitada, havia cumprido uma turnê de 50 shows ao lado do conterrâneo Marcelo Nova, que resultaria no seu último álbum "A Panela do Diabo".



— “Vocês serão o oposto dessa estupidez, aventurando, tentar outra vez. A geração da luz é esperança no ar”. Geração da Luz, Raul Seixas

O menino Raul Raul nasceu em Salvador, em 28 de junho de 1945, e costumava brincar dizendo que era predestinado, pois chegou ao mundo "junto com a bomba atômica". Aos 12 anos, sempre precoce, montou o primeiro grupo de rock de Salvador com aparelhos elétricos. Ainda na adolescência, fundou o fã club de Elvis Presley.




Livrinho escrito por Raul aos 7 anos
O garoto de mente inquieta pensava em ser escritor, mas a criação literária ficou apenas em um livro (foto ao lado), escrito aos sete anos de idade, com histórinhas em quadrinhos, que ele descrevia como "contos surrelistas que nem ele mesmo entendia de tão complexo".

Em entrevista concedida ao antigo Jornal da Manchete, Raul falou sobre o livrinho e ironizou a sua obra infantil. "Se eu fosse escrever isso na fase adulta eu não conseguiria escrever, porque é muito maluco, não sei, acho que era uma criança muito doentia, bem esquizóide mesmo".


— “Não estou cantando só. Cantamos todos nós. mas, cada um nasceu com a sua voz pra dizer, pra falar, de forma diferente o que todo mundo sente”. Ave Maria da Rua, Raul Seixas 

O filósofo 
"Um dos grandes méritos do grande Raulzito, que vivia na linha tênue entre a loucura e a lucidez, foi conseguir tocar o íntimo de todo um público falando sobre filosofia, amor, hábitos comuns, independente do nível de instrução ou classe social, deixando na sua obra um legado que parece sempre atual para as gerações posteriores", afirma o músico Danilo Guerra, integrante da banda Sombra Sonora, que há 16 anos vem celebrando a obra musical de Raulzito nos shows em Salvador.

Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas crenças dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso.

Seu legado
Fã assumido de Elvis Presley, Bob Dylan e dos Beatles, Raulzito transportou o entusiasmo da música dos seus ídolos para uma realidade brasileira. 

"Os ritmos regionais, como o Baião, Xaxado, samba de roda, entre outros, foram muito explorados por Raul Seixas, utilizando a peculiar interpretação roqueira para as diversas abordagens", relembra Danilo.

Raul conseguiu gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 80 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987) e A Panela do Diabo (1989), e sua obra musical tem aumentado continuamente de tamanho, na medida que seus discos (principalmente álbuns póstumos) continuam a ser vendidos, tornando-o um símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos.

A obra musical do pai do rock brazuca é composta por 21 discos lançados em seus 26 anos de carreira, e seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião, e de fato conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let Me Sing, Let Me Sing".

Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968), eleito pelo júri feminino do iBahia como o disco mais importante da história do rock baiano, foi produzido quando ele integrava o grupo soteropolitano Os Panteras, mas ganhou notoriedade crítica e de público mesmo com o Krig-ha, Bandolo! (1973), com hits como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante".

Raul adquiriu um estilo musical que o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais que difundia, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974), influenciado por ocultistas como Aleister Crowley.

Assista a uma performance ao vivo de Raul Seixas, em 1973: